Seguro
Já faz algum tempo desde a última vez que escrevi.
É como se as vezes necessitasse de um tempo, uma pausa ou uma licença - poética - para viver a realidade.
Ando tendo sonhos, ou me lembrando deles.
Pessoas queridas frequentam minha rotina organizada em torno dessa nova vida.
Ando meio reflexiva.. um tanto mais introspectiva... Num árduo exercício de observar e sentir.
E nesse emaranhado das lutas cotidianas que tenho travado comigo mesma, penso sobre a nossa fixação contemporânea (?) por segurança e garantias.
Ainda bem que ainda temos a arte. Que nos permite (a quem se permite) nos enxergar como somos - vulneráveis - contempladores do belo, entregues a todo tipo de linguagem que nos toca.
Há uma gama de serviços disponíveis prontos para te garantir segurança.
Seguro para vidas, saúde, bens (tem até para bicicletas) pets, e pode-se até reclamar judicialmente promessas de amor não cumpridas.
Queremos garantias de que seremos amados (fazemos contratos) de que teremos trabalho (estável) .. nos progamamos (menos do que deveriamos) para a aposentadoria.
Há câmeras de segurança, rastreadores- que por sorte parecem ainda não ter substituído o charmoso serviço de espionagem secreta.
Há cintos de segurança, airbags, capacetes de proteção. Antes que me julguem ... Gostaria de dizer que reconheço os avanços tecnológicos e da ciência.. mas convenhamos.. onde iremos parar com essa sociedade que tem aversão ao risco, que se protege de maneira exacerbada de qualquer interpere.
Onde as paixões e tristezas, que antes nos rendiam lindos poemas ou romances, são cada vez mais tratados com moderadores de humor.
Moderação / proteção / segurança é tanto subterfúgio.. é tanta almofada para absorver os impactos, que vez ou outra me sinto em uma redoma.. como aquela icônica história do menino de ossos de vidro.
E todo esse aparato-distração nos serve para escamotear o único e verdadeiro fato que não podemos controlar e remediar - a finitude da vida- para não usar a palavra morte.
Temor da morte se confunde com o temor de uma vida não vivida ou bem vivida (sabe-se lá o que isso significa).
Enquanto esse dia para o qual não há seguro que garanta não chega, a gente segue acordando cedo e dormindo tarde... Buscando sentido em toda parte. E ufa.. que bom que tem água em Marte.. quem sabe lá a morte não nos aplaque.
Sorte daqueles, que como eu buscam algum refúgio na espiritualidade. Há quem acredite que ela de fato não existe .. é apenas uma fase para além dessa.
Não é o medo da morte que nos amedronta.
É o medo do vazio, do silêncio e da solidão desse fim que nos confronta.
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